DRAMA ESPANHOL

Jornada trans em La Casa de Papel evolui com lucidez e bom humor

Série da Netflix aprofundou a história da Julia (Belén Cuesta), descortinando a relação dela com o pai

Publicado em 05/12/2021

Na reta final da parte quatro, La Casa de Papel apresentou a personagem transsexual Julia (Belén Cuesta), prima de consideração de Denver (Jaime Lorente) e filha de Benjamín (Ramón Agirre). Na parte cinco, cujo volume final de episódios foi lançado na última sexta-feira (3), a série espanhola explorou detalhadamente a jornada pessoal da ladra, com muita lucidez e bom humor.

[Atenção: spoilers da parte cinco a seguir]

Julia, batizada de Manila ao entrar na gangue do Professor (Álvaro Morte), compartilhou lembranças do passado, reforçando como foi difícil assumir a identidade de mulher, pois na certidão de nascimento foi fichada como homem, de nome Juan. Ela compartilhou com dor as adversidades enfrentadas, principalmente aquelas na relação de convívio com o pai.

As particularidades da infância sofrida nos anos 1990, que Julia contou para Estocolmo (Esther Acebo), prepararam o telespectador ao que viria pela frente: a aceitação completa do minerador Benjamín, que virou um protetor devoto da filha e defensor da causa trans.

Belén Cuesta e Esther Acebo na parte cinco de La Casa de Papel
Belén Cuesta à esq e Esther Acebo na parte cinco de La Casa de Papel ReproduçãoNetflix

Passado difícil

Na conversa com a ex-secretária, Julia rememorou que aos cinco anos contou para o pai: “Sou uma menina!“. Ele não reagiu bem, deu bronca e passou a zombar de homens que se vestiam iguais a mulheres. Irredutível, Benjamín até deu uma caixa de maquiagem a Julia, mas dentro havia só ferramentas.

A jovem o perdoou, os dois se entenderam com o avançar dos anos e passaram a se amar perdidamente. Benjamín se preocupava muito com a filha, sempre receoso de que, se ela fosse presa, poderia parar dentro de uma cela masculina, onde infelizmente teria grandes chances de ser violentada.

Essa guinada na percepção de como o minerador enxergava a vida ficou evidenciada em uma situação até cômica. Ele estava ao lado do Professor, e junto com Marselha (Luka Peroš), no instante em que a inspetora Alicia Sierra (Najwa Nimri) deu à luz.

Após o parto, o intelectual pediu a Marselha que fosse comprar itens variados para a bebê recém-nascida. O bigodudo assassino de aluguel chegou com um monte de coisas rosas e levou uma baita bronca didática do parceiro minerador. 

Benjamín (Ramón Agirre), o pai de Julia
Benjamín Ramón Agirre o pai de Julia ReproduçãoNetflix

‘Cor de menina’

Você comprou tudo rosa“, falou Benjamín. “Sim, porque é uma menina“, devolveu um sorridente Marselha, derretido segurando a criança nos braços. Mas o pai de Julia não engoliu isso e começou um discurso que transmitiu uma mensagem importante, sem aquele tom lacrador de “palestrinha”:

E daí? Primeiro, não há cores para meninas ou meninos. Segundo, você está a condicionando. Você não sabe se ela vai se sentir como menina, menino ou sei lá o quê“, arrematou Benjamín. Os dois passaram a brigar, no bom sentido, pela função de quem ajudaria Sierra a cuidar da bebê.

Romance com Denver

Julia confessou amar a Denver (Jaime Lorente), uma paixão brotada na juventude ainda. Ela descobriu que o primo de consideração também lhe queria. Enquanto estava em uma praia deserta, na Indonésia ao lado de Estocolmo, o ladrão pensava muito em Julia.

Depois de uma troca afetiva de palavras, os dois se beijaram dentro do banheiro no Banco da Espanha. Manila passou anos romantizando aquilo, pensava ser o início de uma vida amorosa plena. Mas não.

Ela abriu o jogo para Estocolmo e falou que beijou Denver, porém aquilo não significou nada: “sou obcecada por ele há anos. Hoje percebi que não há nada“, falou.

Belén Cuesta é trans?

Modelo e atriz premiada na Espanha, Belén Cuesta tem 37 anos e é uma mulher cis, que se identifica com o gênero biológico. 

Desde de a escolha dela para viver Julia, a Netflix sofreu críticas por não escalar uma pessoa trans para o papel, já que na plataforma há outros exemplos disso, como nos casos de Sense8 (Jamie Clayton) e Orange Is the New Black (Laverne Cox).


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