ANÁLISE

Morte de personagem carimba desgoverno completo de The Morning Show

Antes digna de elogios, drama da Apple faz uma segunda temporada abaixo da crítica

Publicado em 04/11/2021

Séries com a temporada de estreia estupenda, caso de The Morning Show, sofrem com a assombração do segundo ano. O drama da Apple concretiza essa máxima, caindo de nível sensivelmente na atual leva de episódios. A decisão (atrasada) de matar um personagem, e a execução da história foram um encadeamento de erros, alguns até risíveis.

[Atenção: spoilers a seguir]
No sétimo episódio da segunda temporada, disponível desde a última sexta-feira (29) no streaming Apple TV+, The Morning Show matou Mitch Kessler, ex-âncora da rede de TV UBA interpretado por Steve Carell. Personagem totalmente inútil na narrativa da atual leva, ele só atrapalhou a série. O problema ainda maior é que a saída dele foi desastrosa.

Peça central de um escândalo sexual na UBA, acusado de assédio sexual no trabalho, o então carismático e amado Mitch escapou de Nova York e se isolou na Itália. Enquanto isso, um livro revelador promete contar todos os fatos e fofocas desse bafafá criminoso e repudiante.

A publicação promete revelar as relações sexuais entre Mitch e Alex Levy (Jennifer Aniston), todas consensuais. Esse segredo iria manchar a reputação da jornalista, que endossou as denúncias contra Mitch e é tratada como uma heroína feminista. Ela, na cama com um assediador, seria o fim dessa imagem quase santificada.

O episódio da morte de Mitch é praticamente dele e de Alex. Eis uma das brisas de The Morning Show. A apresentadora, em plena pandemia, viajou de Nova York (EUA) à Itália só para confrontar o ex-colega de bancada e pedir uma declaração formal e pública negando as relações com Alex (embora a verdade seja a do livro).

Ela poderia ter ligado, mandado um e-mail, um zap… Mas não, pegou um jatinho particular apenas para ter o depoimento de Mitch em mãos, por escrito. Ele, porém, nega fazer isso a toque de caixa, passa um número de telefone e ela aceita isso numa boa. Em questão de minutos, Alex deixa a mansão com um pedaço de papel na mão sem aquilo que ela desejou ao atravessar o mundo.

Está na cara que os roteiristas de The Morning Show queriam colocar Jennifer e Carrell em cena novamente, de um jeito ou de outro. Daí, forçaram esse encontro sem lógica, temperado com contornos surreais, como um policial rodoviário ajudando Alex a pegar um avião… no meio da quarentena, na Itália, um dos epicentros da pandemia de Covid-19 no ano passado. O lockdown não era para todos, na visão da série.

Steve Carell, o Mitch no drama The Morning Show
Steve Carell o Mitch no drama The Morning Show DivulgaçãoApple TV+

O adeus definitivo de Mitch veio dentro desse pacote mirabolante. Após um sexo com a documentarista Paola Lambruschini (Valeria Golino), ele saiu de carro para comprar… cigarro. Ao chegar em curva na estrada e pensar em todo o pesadelo que vive, o ex-apresentador de TV largou as mãos do volante e deixou o automóvel seguir reto rumo a um penhasco.

Imaginando a mente desgovernada dos roteiristas de The Morning Show, essa opção de morte foi meio nas coxas, tipo “vamo acabar logo com isso”. Ponto negativo da segunda temporada, Mitch deveria ter sido alvo desse tipo de decisão seis episódios antes.

Agora, o pior está por vir. Pois restam apenas três capítulos para a segunda temporada terminar e entre tantas tramas a serem amarradas, uma é justamente a morte de um personagem importante no mundo de The Morning Show. Uma perda dessa magnitude não é superada como o gesto de tirar uma sujeira do ombro.

Todas as consequências que os personagens de The Morning Show sentem na pele são oriundas, direta ou indiretamente, das atitudes de Mitch, coisas boas e ruins. A expurgação dele veio tarde, mas merecia um tratamento bem melhor.


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