ANÁLISE

Profecia do Inferno atiça o monstro justiceiro oculto do ser humano

Série sul-coreana debate como a pessoa deve lidar com o pecado, próprio ou dos outros

Publicado em 26/11/2021

Um homem mata a sua mulher e vai preso, mas deixa a cadeia após seis anos. Como reagir a uma situação dessa? Vale confiar nas leis dos homens ou seria mais adequado fazer justiça com as próprias mãos? O ímpeto justiceiro ocultado no mais íntimo do ser humano é provocado pela série Profecia do Inferno, o mais novo sucesso sul-coreano feito pela Netflix.

A narrativa sobrenatural distorce alguns preceitos bíblicos a favor de uma moralidade aparentemente irrefutável. Uma entidade surge do nada para uma determinada pessoa e diz o dia e a hora que ela vai morrer. Tem quem entenda o recado misterioso como divino. Já o alvo da punição é tratado como um pecador condenado ao inferno.

Dois grupos se sobressaem nessa frente. Um é chamado de A Nova Verdade, uma seita que aproveita o caos para pregar uma religião supostamente celestial. Já os integrantes extremistas do Arrowhead, enquanto pregam a doutrina da Nova Verdade em vídeos na internet, encarnam justiceiros e dão surras em pessoas, usando como justificativa as transgressões delas.

Profecia do Inferno dedica-se muito nesse ideal do pecador morto, causador de uma certa alegria em que o vê padecendo, pois o sujeito sentenciado às trevas perdeu a vida ao se desviar de um caminho bom. Isso fica evidente na menina sorridente ao ver o assassino da mãe ser incinerado.

Monstros queimam uma pessoa em Profecia do Inferno
Monstros queimam uma pessoa em Profecia do Inferno DivulgaçãoNetflix

Quem nunca?

Há uma verdade da vida sobre o pecado, um conhecimento válido ao crente no divino ou não: quem nunca pecou, atire a primeira pedra. O drama sul-coreano aborda essa máxima nas entrelinhas, visto que quem aponta o dedo para os condenados ao inferno age nos bastidores na tarefa de sepultar os próprios deslizes.

A cartilha pregada pela Nova Verdade é cheia de falhas. A seita considera apenas atos explicitamente evitáveis como dignos da perdição eterna (agiotagem, traição, entre outros). Ou seja, não há pecado original, muito menos redenção. Nos itens repreensíveis não estão a luxúria e a ganância, por exemplo. Se tivessem, qual indivíduo iria sobreviver?

Com o intuito de controlar a massa, a religião criada no mundo da trama opera na base do medo, não muito diferente das atuantes na vida real. E os profanadores aniquilados pelos monstros sobrenaturais são sublinhados como exemplos de má conduta.

Profecia do Inferno é interessante por incitar pensamentos sobre justiça e perdão. Analisando com frieza, o assassino solto após seis anos merecia uma punição muito mais severa do que essa, talvez até a morte. Mas a humanidade deve ser complacente e perdoar sempre, pois não existe uma pessoa que não peque. 

A série da Netflix revela a monstruosidade que extrapola quando o ser humano exerce o papel de justiceiro, seja por qual for a motivação.


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