ANÁLISE

Embora melhor, Seinfeld jamais será maior do que Friends

As duas séries venceram o Emmy, mas uma tem mais popularidade do que a outra (e não há nada de errado nisso)

Publicado em 20/10/2021

Lançada há 20 dias na Netflix, Seinfeld (1989-1998) entrou na plataforma com a responsabilidade de ser a comédia âncora do catálogo, substituta de Friends (1994-2004; HBO Max). A novidade até animou os investidores e boa parte do público, mas ficou comprovado um fato: embora seja melhor, Seinfeld nunca será maior do que Friends.

As duas travam um duelo, sem querer querendo, em discussões sobre qual é a série humorística número um de todos os tempos; cada uma tem um Emmy de melhor comédia. No quesito qualidade, Seinfeld ganha de lavada. Mas quando o assunto é popularidade não tem para ninguém, é Friends na cabeça! E não há nada de errado nisso.

Impacto cultural

De todas as comédias com potencial de serem vistas em um eterno loop, como The Big Bang Theory (2007-2019) e The Office (2005-2013), Friends é que indiscutivelmente tem o impacto cultural mais significativo. Ao redor do planeta, como a reunião promovida pela HBO Max provou, a série dos seis amigos nova-iorquinos tem um poder de influência muito forte.

As histórias narradas em Friends ajudam nisso, com muito romance, lições sobre a amizade e amadurecimento. Não há ali uma preocupação primordial em discutir temas sociais delicados. O foco é entreter no sentido mais absoluto da palavra.

Seinfeld tem muita relevância nos Estados Unidos, com direito a expressões usadas na série que se tornaram populares, inseridas nos diálogos corriqueiros das pessoas (o “yada, yada, yada” é uma delas). Esse efeito não é visto na mesma proporção em outras partes do mundo.

Uma situação inusitada contribuiu (e contribui) para Friends ganhar um espaço no imaginário das pessoas: o fato de a série ser uma ferramenta de ensino da língua inglesa quase onipresente em cursinhos das mais diversas nações. A sitcom serve como um guia para pegar o jeito de como falar e compreender o idioma.

Jennifer Aniston (à esq.) com Courteney Cox em cena de Friends
Jennifer Aniston com Courteney Cox em cena de Friends (Divulgação/NBC)

O dinheiro explica

O significado de uma coisa pode ser resumido em um valor. Na guerra dos streamings por conteúdo, Seinfeld (Sony Pictures) e Friends (Warner Bros.), as duas produzidas por estúdios independentes, estavam no centro da batalha, prontas para receber os milhões de dólares jogados na mesa.

Por muito tempo, a Netflix foi a casa de Friends. Assim que a Warner anunciou em 2018 que iria lançar um streaming próprio (HBO Max), logo surgiram especulações de que a comédia deixaria a rival.

Isso seria verdade, mas a plataforma do tudum ficou com Friends até o último segundo. Naquele ano, o contrato de licenciamento acabou, mas o serviço poderia ter a série por mais 12 meses, antes de a HBO Max nascer. 

A Netflix despejou a bagatela de US$ 100 milhões (R$ 559 milhões) por somente um ano de Friends, sem pensar duas vezes. É o mesmo valor que a HBO desembolsou para fazer uma temporada de Game of Thrones (2011-2019), por exemplo. 

Seinfeld corria mais na periferia do mercado. A disponibilidade mundial da atração nos streamings não era em uma única plataforma. Aqui no Brasil, a série pertencia ao Prime Video e o serviço da Amazon a tratava como mais um item no catálogo. Algumas vezes, Seinfeld ficava fora do ar e depois retornava sem os assinantes serem avisados disso.

O preço que a Netflix pagou por Seinfeld, US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) em um contrato de cinco anos, foi turbinado pela falta de opções. A HBO Max ficou com as comédias âncoras The Office e The Big Bang Theory (além de Friends). Não restava muita alternativa na praça. Era melhor gastar com Seinfeld do que vê-la aterrissando em uma rival. A curto prazo, dá para medir se o investimento valeu a pena ou não.


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